A Montanha Sagrada (The Holy Mountain) é um filme de 1973, do diretor chileno Alejandro Jodorowsky.
É o quarto filme do realizador, que já havia obtido grande destaque da crítica com o filme anterior, El Topo (1970).
Seus filmes seguem extremamente difíceis de classificar, mas podem ser associados a elementos típicos do cinema moderno. Construções de espaços atemporais, personagens alegóricas e metafóricas, presença de elementos de multi – culturalidade, como temas de diferentes religiões e a constante ruptura com o padrão e o homogêneo da interpretação da arte.
Foi um dos criadores do chamado Movimento Pânico, mais ligado ao teatro, que tinha a intenção de resgatar as idéias surrealistas e a profunda sinceridade na criação artística, para quebrar todos os códigos e valores estabelecidos. No intervalo da rodagem do filme A Montanha Sagrada, Jodorowsky comenta: “Precisamos matar algum espaço mental. Precisamos matar para sobreviver, destruir mentes. Quando eu digo ‘destruir’, digo abrir. Devemos abrir espaço para uma nova vida.”
Abertos a essa nova vida, somos guiados pela narrativa através de símbolos e rituais alquímicos, maçônicos, astrológicos, egípcios e o repertório imagético e simbólico do tarô, o qual Jodorowsky é grande estudioso. Temos ainda no começo, animais esfolados e crucificados levados e adorados por uma procissão, um “circo” de animais realizando uma apresentação que conta a história da derrota dos astecas “pagãos”, representados por lagartos, pelos espanhóis católicos, representados por sapos obesos. Que no final são literalmente explodidos, dando a entender que nessa insanidade, ambos saem derrotados.
Uma simplista sinopse pode ser descrita como uma figura bizarra de Cristo que vagueia entre cenários pictóricos e grotescos, encontra um guia místico que lhe apresenta sete personagens que representam os planetas do sistema solar. Todos passam por uma série de rituais que os fazem absterem-se de todos os bens terrenos, para juntos irem até a montanha sagrada descobrir o segredo dos deuses imortais.
O filme é um verdadeiro ritual que estabelece uma linha de comunicação direta com o inconsciente, levando o espectador a uma “viagem” transcendental de descobertas através dos sentidos que as imagens revelam. Os cenários sempre cheios de elementos, muitas vezes hiper coloridos, fazem os olhos abrirem a um universo diferente do habitual, que cena após cena não trazem um entendimento claro da história e sim, uma própria interpretação dos acontecimentos capturando a poderosa essência imagética dos símbolos místico e religiosos.
Isso revela uma obra livre, sem nenhuma filiação e tradição, isenta de qualquer compromisso universal, isolando-se a sensibilidade de elementos atemporais e utópicos da condição humana, que está em constante busca de alguma razão para a vida e ligada ao sonho, o estado de elevação do pensamento.
Tudo isso é resulta por Jodorowsky ser diferente dos cineastas dos “cinemas novos” da década de 70, pois ele não é movido pela cinefilia, que instigou estudos sobre a área para formar uma metalinguagem visando estabelecer “diálogos” com os clássicos. Não é propriamente no cinema que se encontram os interesses desse diretor, seus filmes visam estabelecer outras relações, citadas anteriormente. Principalmente nos símbolos e rituais esotéricos, nas simbologias do tarô, e outros, buscando a expansão da consciência para atingir um grau maior, descobrir a montanha sagrada e se tornar imortal. E essa é a busca do próprio diretor: “Esse filme é minha própria busca por iluminação. Eu quero ser um Mestre. Eu penso em como é ser um Mestre. Eu leio sobre como é ser um Mestre. Eu me visto como um Mestre. Eu ajo como um Mestre. Eu me torno um Mestre”. E com isso nos defrontarmos com um nó na obra do mesmo, vê-la com olhos de cinéfilo ou de esotérico?
E toda essa história fantástica de uma epopéia, pode se tornar frustrante se tentarmos racionalizar seu conteúdo em busca de um entendimento. Principalmente quando chegarmos ao final da história, onde é revelada toda essa artimanha da produção cinematográfica, nos mostrando que depois de todas aquelas sensações, estamos apenas vendo um filme!
Leonardo Bortolin Bruno - aluno de intercâmbio da UFF - RJ
Referências: