18 de outubro de 2010

Memória hitchcockiana


João Lopes: Vejo o filme francês O Pai dos Meus Filhos, de Marie Hansen-Love, e penso necessariamente em Psico (1960), de Alfred Hitchcock, um dos filmes onde mais visceralmente podemos detectar as convulsões formais dos tempos de eclosão dos "cinemas novos" (mesmo se é verdade que Hitchcock é, até certo ponto, exterior a essa história).
Assim, em Psico, Janet Leigh, a personagem com quem de imediato nos identificamos, desaparece ao fim de meia hora (na célebre cena do duche). Em O Pai dos Meus Filhos, o produtor de cinema que é a centralíssima personagem central (espantoso actor: Louis-Do de Lencquesaing) está imbuído de uma pulsão destruidora que, a meio do filme, o transforma numa dolorosa ausência... Como se o cinema precisasse de nos fazer sentir carentes — face à pluralidade do real e da ficção — para melhor compreendermos a imensa dificuldade de encontrar as imagens justas. As imagens e os sons.