20 de outubro de 2010

A herança de Bergman


João Lopes: A herança de Ingmar Bergman (1918-2007) confunde-se com a defesa da especificidade do próprio cinema. Se é verdade que o seu trabalho integra referências e valores "roubados" a outras artes (nomeadamente o teatro), não é menos verdade que os seus filmes vivem, antes do mais, da paciente e obsessiva procura de uma linguagem — ou melhor, de linguagens — em que o cinema deixa de ser uma "transcrição" do mundo para existir como uma recriação da sua própria complexidade, da dificuldade de a contemplar e dizer. Bergman foi tudo isso na idade da televisão e, afinal, sem renegar a televisão; o seu derradeiro filme, Saraband (2003), é mesmo um caso extraordinário de integração de algumas lógicas televisivas, sem deixar de ser um radical objecto de cinema.

>>> Site oficial de Ingmar Bergman.
>>> Site oficial da Fundação Ingmar Bergman.
>>> Site dedicado a Ingmar Bergman: Bergmanorama.
>>> Ingmar Bergman no Senses of Cinema.
>>> Obituário de Ingmar Bergman no New York Times.

18 de outubro de 2010

Memória hitchcockiana


João Lopes: Vejo o filme francês O Pai dos Meus Filhos, de Marie Hansen-Love, e penso necessariamente em Psico (1960), de Alfred Hitchcock, um dos filmes onde mais visceralmente podemos detectar as convulsões formais dos tempos de eclosão dos "cinemas novos" (mesmo se é verdade que Hitchcock é, até certo ponto, exterior a essa história).
Assim, em Psico, Janet Leigh, a personagem com quem de imediato nos identificamos, desaparece ao fim de meia hora (na célebre cena do duche). Em O Pai dos Meus Filhos, o produtor de cinema que é a centralíssima personagem central (espantoso actor: Louis-Do de Lencquesaing) está imbuído de uma pulsão destruidora que, a meio do filme, o transforma numa dolorosa ausência... Como se o cinema precisasse de nos fazer sentir carentes — face à pluralidade do real e da ficção — para melhor compreendermos a imensa dificuldade de encontrar as imagens justas. As imagens e os sons.

11 de outubro de 2010

Crime(s)


João Lopes: Em O Local do Crime, André Téchiné, filma uma história de personagens — por exemplo: a mãe (Catherine Deneuve) e o filho (Nicolas Giraudi) — que se enganam umas às outras, nem que seja pelo simples facto de existirem num local (do crime?) que os outros não conhecem nem pressentem. Ou ainda: como filmar a diferença entre aquilo que somos e aquilo que mostramos? Téchiné é um cineasta dessa imensa dificuldade de conhecermos, de nos conhecermos. Pressente-se a nostalgia romântica, mas o tempo é cruel.

4 de outubro de 2010

Ponto de partida: Bergman


João Lopes: Recuando às décadas de 1950/60, deparamos com o cinema a discutir a sua herança clássica, quer dizer, a inventar a sua modernidade. Face a esse enorme novelo de memórias, podemos, por exemplo, partir de Ingmar Bergman. Ou repartir: que significa representar o mundo?